Diferentes em suas funções e etnias, mas iguais em seu propósito. Fortalecer a figura feminina dentro dos povos indígenas ou quilombolas, prestar total serviço e apoio à sua aldeia sem ser limitada pelo fato de ser uma mulher. “Não é fácil”, é a frase compartilhada por todas elas. Como conseguiram conquistar um lugar de liderança? “Lutando e se impondo”.
Aos 74 anos, a cacique Pequena, do povo Jenipapo Kanindé, é pura força. Inspiração por onde passa. Não é para menos: a mulher é a primeira – e única – cacique do Ceará. Assumiu a representação oficial de seu povo há 23 anos. Rejeitou o pedido por três vezes. Até que aceitou. “Viajei a Brasília. Lá teve uma grande reunião. Um encontro de todos os caciques do Brasil. Eram 39 caciques homens, 40 caciques comigo”, relata. “Quando levantei a voz e disse que era cacique, os homens do Sul e do Norte só faltaram me comer crua. Disseram que mulher jamais podia pegar nesse cargo e que só servia para cama e pé de fogão”.
Com orgulho, Pequena conta a resposta que deu aos homens, afirmando que a mulher tem direito a se igualar ao homem. Conquistou o cargo de cacique depois de 11 anos de trabalho, sendo reconhecida pelo próprio povo. “Sempre digo às mulheres: sejam fortes. Tenham talento, coragem e sabedoria”, aconselha a líder da tribo Jenipapo Kanindé.
Para a presidente da Associação de Professores Indígenas dos Tapebas e única juremeira (conhecedora dos segredos da árvore Jurema) do Ceará, Margarida Teixeira, o papel de destaque desempenhado por ela e por outras mulheres nas tribos é resultado das novas gerações que estão chegando. “Está tendo outra forma de enxergar o papel da mulher. Ela se reconheceu, chegou junto, discutiu de igual para igual e ocupou esse espaço que antes era só do homem”, afirma Margarida. Contudo, a missão de manter as tradições em uma sociedade tecnológica se revela como um desafio, conforme relatou a juremeira. Especialista na medicina tradicional indígena, ela revela que a cultura está sendo engolida pela cidade. “Isso acontece em vários aspectos, como da medicina tradicional. Sabemos que a nossa medicina cura, mas hoje eles sentem uma dor e vão ao médico. Às vezes não adianta, porque a doença é espiritual”, conta Margarida.