A Literatura Universal está devendo, por incontestável dever de justiça e por injustificável miopia, um capítulo dos seus estudos, dedicado a Patativa do Assaré, em cada escola de Humanidades deste planeta.
Não basta apenas que sua obra tenha sido estudada na Universidade de Sorbone, na França, e que ele tenha sido citado de raspão na Universidade de Liverpool, na Inglaterra.
As muitas monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado e alguns livros sobre a obra de Patativa, não podem ser vistos apenas como deveres acadêmicos. A essência de sua poesia e o teor desses estudos têm de ser considerados na publicação de livros didáticos e paradidáticos, mundo afora. A criação do poeta merece não apenas análise literária, mas sociológica.
Poeta matuto, simples, radical na defesa do seu torrão, Patativa produziu em profusão. Fazia poesia de tudo quanto sua alma perscrutava. Ele condensou a linguagem nordestina na sua obra, de essência irretocável.
Poemas, cordéis, livros, canções, cantorias de improviso, programas de rádio, documentários de cinema e de televisão compõem um acervo precioso, fonte inesgotável para quem quiser estudar a alma nordestina, o retrato em versos de uma região e de um país.
Patativa versejou sem censura na democracia ou na ditadura. Para ele, sua observação virava intuição e imediatamente versos de beleza e encanto raros, na defesa intransigente do sertanejo nordestino, privado de oportunidades.
Em vida, ainda muito jovem, foi preso por alguns minutos, porque denunciou, na sua Assaré, a “Prefeitura sem Prefeito”, após três vezes percorrer dezoito quilômetros, da roça até a sede da prefeitura, sem encontrar o prefeito para assinar um documento de que precisava.
Dedicou parte da sua obra ao amor do nordestino, aí provando mais uma vez, uma sensibilidade ímpar para com as coisas do coração. Dá gosto ler o poeta falando de saudade, de que ele tanto gostava.
Em “A triste Partida”, gravada por Luiz Gonzaga, Patativa compôs um verdadeiro tratado sobre o Nordeste, um grito de lamento, de protesto e de reivindicação para o sertanejo que sofria – e sofre – com a seca. À época, Patativa e Gonzaga “escandalizaram” a crítica musical do país. Um compondo e outro cantando, a gravação levou nove minutos, quebrando um paradigma da música popular, que durava em média três minutos. O poeta era irredutível. Não aceitava cortes ou remendos em seus poemas. Tinha forte personalidade.
Único, Patativa do Assaré era a encarnação da síntese nordestina. Roceiro, modesto, sentia na pele aquilo que versejava. Trazia consigo no físico e na alma, a inspiração para fazer milhares de poemas, que não escrevia, mas que, incrivelmente, lembrava e recitava.
Era um gênio. Em cada contexto, seus versos eram, ou melhor, são incorrigíveis e insubstituíveis.
Em tempo, para não esquecer, sugiro aos professores que incluam o nosso poeta maior, nas aulas de História Regional. É justo.