A festa de Santo Antônio de Barbalha é uma das mais tradicionais celebrações a reunir grupos de tradição característicos de ambientes onde se predominam culturas rurais. Dentro do contexto da modernidade, este costume advindo do contexto agrário é vista como uma forma de autodefesa e salvaguarda deste passado histórico para a modernidade.


O carregamento do Pau da Bandeira, símbolo de devoção a Santo Antônio de Pádua, é regada a cachaça – algo comum entre os carregadores do pau, pois segundo eles dá mais ânimo no trajeto -, homenagens ao santo e práticas de simpatias em torno do simbolismo fálico, que representam a irreverência e religiosidade do povo ao santo casamenteiro. Estas práticas de tradição advindas do Brasil colonial, perpetuadas até os dias de hoje, mostram o forte papel da cidade em divulgar e promover o sentido de pertencimento da população para o senso cultural, tanto da cidade quanto a região do Cariri. Estes grupos então tem a possibilidade de mostrar que existem e de serem reconhecidos pelo devido valor de cultura e dos saberes populares.
História Cultural da Festa
“É da floresta que vem a festa”, assim denomina o professor e pesquisador Josier Ferreira da Silva, da Universidade Regional do Cariri (URCA). Ele também é diretor da área cultural da Escola de Saberes de Barbalha, equipamento introduzido a fim de propagar e promover a salvaguarda das práticas neste berço cultural, conforme relata. “Esta é a única festa regional onde a ruralidade dos camponeses vai subsidiar uma festa urbana”, afirma.
Barbalha desde 1976 já era reconhecida popularmente com uma das cidades que concentram estes grupos de tradições, onde participam o reisado, os penitentes, maculelê, dança de pau e fita, zabumbeiros, dentre outros. Segundo Josier, uma característica marcada desde a época da colonização, que se fez presente a partir de vários estados do Nordeste.


Introduzido pelos proprietários das primeiras terras, que pertenciam antes a Vila Real do Crato, o culto ao santo veio de origem alagoana, onde da cidade de Penedo, às margens do Rio São Francisco, já existiam capelas e igrejas dedicadas, vindo posteriormente para Barbalha por um senhor de terras que aqui se alojou e decidiu construir uma capela em homenagem a Santo Antonio. “Este se tornou o padroeiro de Barbalha, por ser um santo em comum de devoção, através do processo de colonização do município, advindo dos imigrantes de vários estados, como Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Bahia.”, ressalta o pesquisador.
A partir dos colonizadores, também chegaram a esta região grupos de várias práticas culturais, como cita Josier, comparando a como foi em Crato e em outras cidades do Cariri. Estes grupos de cultura popular, onde também foram introduzidos conforme cada cultura advinda de outras regiões, são práticas que remontam as matrizes dos povos da Àfrica e Europa, que habitaram o país.
Ruas são enfeitadas para o Cortejo do Pau da Bandeira


A Festa de Santo Antonio faz parte do chamado ciclo das festas juninas, que ao longo do mês de junho fazem, em todo o Nordeste do Brasil, reviver as práticas da cultura, culinária e religiosidade vindas do interior. Em Barbalha, a festa é marcada pela cultural popular local, em conotação a celebração e alegria dos principais personagens que habitam o imaginário popular. Um destes personagens é o “Mateu”, que é tema oficial da ornamentação da cidade para os festejos à Santo Antonio.
O personagem, que é uma representação do folião ou palhaço, é característico do Reisado (Folia de Reis), um folguedo do ciclo natalino que habita as ruas em cortejo, com outros diversos personagens, como a Catirina, a Lapinha, bumba-meu-boi, e os brincantes do maneiro-pau. No ano de 2018, em alusão a Copa do Mundo na Rússia, a Secretaria de Cultura do município sugeriu a ornamentação das principais ruas da cidade, onde passará o cortejo com o Pau da Bandeira e aconteçam as atrações culturais, fosse inspirada nos jogadores do Brasil, onde o personagem está caracterizado com roupas da seleção brasileira e com bolas de futebol.
Barbalha de Santo Antônio
Uma música dos compositores Alcimar Monteiro e João Paulo Júnior – transcrita abaixo – foi imortalizada, tanto na voz do saudoso Luiz Gonzaga, quanto no livro Sentidos de Devoção: Festa e Carregamento em Barbalha, publicado pelo IPHAN para oficializar a Festa do Pau da Bandeira como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Ela retrata em poesia, a singeleza e riqueza dos significados de uma das maiores celebrações populares do país. Confira a letra e a música:
Em Barbalha é de primeira
A cidade toda corre
Prá ver o Pau da Bandeira
A multidão faz fileira, hoje é o dia
Vamos buscar o Pau da Bandeira
Homem, menino e mulher
Todo mundo vai a pé
A cachaça na carroça
Só num bebe quem num quer
Só se ouve o comentário
Lá na Igreja do Rosário
Que a moça pra ser feliz
Reza-se lá na matriz
Meu Santo Antonio casamenteiro
Meu padroeiro, esperei o ano inteiro