Após uma semana de aparente calma, a tensão entre brasileiros e venezuelanos voltou a crescer na cidade fronteiriça de Pacaraima, no extremo norte de Roraima. Moradores do pequeno município de 13 mil habitantes voltaram a exigir neste sábado 25 a saída dos imigrantes da cidade e foram confrontados por venezuelanos revoltados com o tratamento que têm recebido no Brasil.
Na região central de Pacaraima, grupos de brasileiros e venezuelanos protagonizaram uma discussão que foi assistida por soldados das Polícias Federal e Militar de Roraima. O confronto teve início após mais uma manifestação organizada contra a presença de imigrantes venezuelanos na pequena cidade. Dessa vez, o protesto teve como mote as reivindicações dos povos indígenas de Roraima. Incentivados pelos mesmos moradores que comandaram a onda de violência que culminou com a saída de cerca de 1.200 imigrantes venezuelanos da cidade.
“Nós não vamos sair daqui, vamos continuar aqui, temos direito de estar aqui e não merecemos o que estão fazendo conosco”, era o que o imigrante Ricardo Delgado, bradava depois de ter seus pertences queimados por brasileiros no dia 18 de agosto.
Índios da etnia Macuxi decidiram fechar parcialmente a BR-174 – que liga Boa Vista a Manaus – para protestar contra o apoio que o governo brasileiro tem oferecido aos indígenas do país vizinho que têm imigrado em massa para o Brasil. De acordo com eles, Brasília tem oferecido toda sorte de apoio aos indígenas da etnia Warao, sem oferecer nenhuma contrapartida aos povos de Roraima. Originários do Delta do Rio Orinoco, o Nordeste da Venezuela, os Warao têm se transferido para o Brasil por conta da crise venezuelana.
“Nós não estamos aqui porque queremos, estamos porque precisamos, porque não temos comida, não temos nada e ainda assim nos tratam como animais”, dizia José Ortiga, um venezuelano que veio da cidade de Tigre.
O protesto foi organizado por um grupo de brasileiros comandados por Fernando Abreu, um professor aposentado que vive na cidade há cinco anos e que se tornou uma espécie de agitador local contra os imigrantes. Foi ele quem assumiu o carro de som nos protestos que culminaram na onda de violência contras os imigrantes e quem convenceu os indígenas da etnia Macuxi a se integrar à luta contra os imigrantes venezuelanos.
Acusado pelos imigrantes de ter ateado fogo em seus pertences, Fernando Abreu justifica sua postura com a alegação de que os venezuelanos que chegam ao Brasil “são todos bandidos”.
Fernando Abreu é um defensor do candidato à Presidência pelo PSL Jair Bolsonaro. Em seu carro pintou uma foto do candidato e colou diversos adesivos. Abreu acusa a imprensa de distorcer a realidade dos acontecimentos em Pacaraima e afirma que os jornalistas que estão na cidade são pagos para contar mentiras sobre a população.