Há 5 anos, Nisreen teve que adaptar sua vida à falta de eletricidade e gás, porque o regime de Bashar al-Assad cortou o fornecimento ao cercar a região de Guta Oriental. Também passou a viver em alerta, para se proteger de bombardeios que poderiam ocorrer no seu trajeto percorrido à pé à mesquita ou à escola em que trabalhava. Há pouco menos de um mês, os ataques se intensificaram a tal ponto que teve de largar o trabalho e passar boa parte do dia em um porão com familiares e vizinhos. Há três semanas, sua casa foi totalmente destruída.
Nisreen tem 38 anos e é moradora de Duma, a maior cidade de Guta Oriental. A região que fica nos subúrbios de Damasco é um dos últimos redutos de rebeldes da Síria que lutam contra as forças de Assad. Em três semanas de intensos bombardeios com apoio da Rússia, mais de mil civis morreram. Em todo o país, a guerra civil, que completa 7 anos nesta quinta-feira (15), deixou 500 mil mortos, segundo o recente balanço do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Formada em arquitetura pela Universidade de Damasco, Nisreen não conseguiu seguir carreira por causa da guerra. Passou a dar aulas em uma escola para ajudar as crianças da sua cidade. Hoje tenta continuar com as aulas no porão.
“Não conseguimos usar as escolas porque elas são bombardeadas o dia todo. Nós usamos os porões. Não temos livros escolares porque o regime impediu que eles entrassem em Guta durante o cerco. Na maior parte do tempo, dependemos das organizações para nos trazer alguns desses instrumentos para o processo educacional”, diz.
Grande parte dos 400 mil civis que estão sitiados em toda Guta Oriental usam o subsolo de prédios que não foram destruídos para se proteger dos ataques aéreos. O porão em que Nisreen se esconde em média 20 horas ao dia tem cerca de 300m2 e abriga por volta de 150 pessoas, sendo 70 crianças. Nele, não há ventilação nem luz natural.