Patrimônio imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Festa do Pau da Bandeira é um misto de fé e cultura popular. E não é só isso. É brilho, sonho, confraternização, dividendos econômicos e muito mais.
Segundo o prof. Ms. Océlio Teixeira de Souza, na sua dissertação de mestrado (UFRJ-2000): A Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha (CE) – entre o controle e a autonomia (1928-1998), foi o Padre José Correia que instituiu o Cortejo do Pau da Bandeira, no seu primeiro ano de paroquiato.
Provavelmente, o hasteamento da bandeira por ocasião da festa do padroeiro já acontecia. Mas o sucessor do Pe. Antônio Jathay de Sousa queria mais do que o que já se fazia, tradicionalmente, nas festas juninas e renovações. Além do hasteamento, o cortejo denotaria outra dimensão e motivação para aguçar a fé nesse grande taumaturgo. Com um imponente mastro hasteando no patamar da igreja, a bandeira de Santo Antônio, não tinha como não saber que a Festa havia começado, era uma simbologia da religiosidade de um povo que só crescia.
Vale ressaltar, que muita coisa mudou desses tempos para cá. Nos anos noventa, o cortejo passou a ter outros apetrechos. O que significava mais devoção ao santo, passou a ter também uma conotação profana incisiva: músicas, bebidas, comidas… É o que o mestre Océlio chama de carnavalização da festa. O que, naturalmente, provocou durante muito tempo, uma resistência diocesana. Hoje, há convergência. Mas também há o que se melhorar.
Para uma tradição nonagenária, a festa traz autoestima para os barbalhenses e visitantes. Milhares tornam-se iguais na alegria, na devoção e na valorização dessa manifestação tão intensa e que tão peculiarmente nos identifica.
Ao reconhecer o crescimento vertiginoso da festa do Pau da Bandeira, entendo que precisamos olhar para um futuro próximo. Convém um estudo analítico sobre ela. Pela dimensão atual, não podemos nos esquivar dessa responsabilidade. E não estou me referindo a reuniões preparatórias, alguns dias antes dela. Vejo como necessária a realização sistemática de workshops com profissionais gabaritados daqui e dos grandes centros do país.
Precisamos das universidades locais, das opiniões de sociólogos, engenheiros, agentes de cultura, dos carregadores, dos artistas, dos camelôs, dos que fazem a segurança, dos representantes da igreja, do povo… Além disso, não podemos nos abster de ouvir em pesquisa os nossos turistas. Urge, definitivamente, um olhar científico para a nossa maior festa.
Certamente, quem vem nos visitar espera ver e viver devoção, organização, acolhimento, segurança, as melhores condições de hospitalidade e uma programação artística de ótimo nível. Mas vem também em busca de informação. Onde estão os cicerones da cultura popular? Quem fala sobre nosso poderio arquitetônico? Quem evidencia nossas riquezas naturais? Quem detalha a origem de cada grupo folclórico? Quem conta a nossa história? A festa do Pau da Bandeira é uma oportunidade de ouro para compartilharmos nossas riquezas com o “mundo”, desde o alvorecer.
Por fim, além de agradecer e parabenizar aos que há tanto tempo contribuem diretamente para o seu êxito, reitero o desejo de ver, no mais curto espaço de tempo possível, uma melhor distribuição das barracas de camelôs, uma maior quantidade de banheiros químicos, um número bem menor de veículos nas ruas onde ficam os palcos, seguranças e policiais em demasia, instalação de lixeiros, ambulâncias em diversas ruas, proibição extremamente rigorosa de carros com sons em altíssimos decibéis, diversos agentes de informação, prioridade aos artistas que cantam músicas convergentes à cultura regional etc.
Que no vinte e sete de maio vindouro, possamos, mais uma vez, erguer a bandeira de Santo Antônio em nome da fé e da cultura popular, unindo o profano e o religioso, sem esquecer que a festa é originariamente religiosa, mas também o melhor momento de fazer valer uma outra sua essência – a cultura popular. Viva Santo Antônio! Viva a cultura! Viva a festa do Pau da Bandeira!