Era no campo que os grandes nomes do Brasil Colônia e Império se estabeleciam, em suas propriedades focavam seus maiores investimentos, ao ponto de Sérgio Buarque de Holanda, destacar em seu clássico fundador, Raízes do Brasil, o importante papel do meio rural na nossa formação social:
“Toda a estrutura de nossa sociedade colonial teve sua base fora dos meios urbanos. É preciso considerar esse fato para se compreender exatamente as condições que, por via direta ou indireta, nos governaram até muito depois de proclamada nossa independência política e cujos reflexos não se apagaram ainda hoje”.
E reforça:
“É efetivamente nas propriedades rústicas que toda a vida da colônia se concentra durante os séculos iniciais da ocupação europeia: as cidades são virtualmente, se não de fato, simples dependências delas. Com pouco exagero pode dizer-se que tal situação não se modificou essencialmente até a abolição”.
Como legado arquitetônico desse período de focalização financeira no recorte geográfico rural, temos desde as técnicas de construção, às especificidades estéticas destes sem número de imóveis, digo inumeráveis, pois os critérios para inventaria-los ainda são deveras deficientes, principalmente no tocante das construções menos abastadas, que apesar de não possuírem a arquitetura apurada de alguns casarões de fazenda são notáveis testemunhos da vida, em seus mais diversos aspectos, levada pelo homem simples do campo.
Retratam a primitiva arquitetura vernacular, avançadíssima do ponto de vista de viabilidade técnica no recorte temporal em que estava inserida; no nordeste, exalta os desdobramentos do sertanejo para vencer as intempéries climáticas. Tais aspectos, singelos ainda diante da grandeza do tema, nos lembram de que nossas atenções para o patrimônio arquitetônico rural foram até hoje insuficientes em nossa região, e que se o patrimônio citadino anda aos frangalhos, imaginem como não estão os remanescentes sem prestigio e destaque escondidos nessas quebradas do sertão nordestino.
Circular pela nossa zona rural é uma viagem pelos séculos que marcam a história do Cariri. Imóveis como a Casa de Pedra de Missão Velha; Casarão do Bispo, em Umari; Casarão de Vicente Duarte Pinheiro, e outros tantos que ainda resistem, me mostraram que conheço uma pequena fração dos que ainda bravamente insistem em se manter de pé, e me faz voltar minhas atenções para esse setor patrimonial com cada vez mais força, pois diante dos muitos usos que esses prédios assumem após deixarem de ser moradia de seus proprietários, pouquíssimos foram demolidos, e assim temos um leque ainda maior de casas e casarões que nos ajudarão a contar nossa história e desenvolvimento arquitetônico, e que sequer lembramos da existência. Inventariar esses imóveis é uma necessidade urgente, e uma causa que toda a sociedade deve abraçar!