Se dentro de campo o Brasil não funcionou nesta Copa, do lado de fora o país apresenta sérios problemas em suas engrenagens sociais. Eram 11 jogadores, cada um com uma função específica, que a sonhada taça só conquistariam se o coletivo desse certo. E não deu, nem mesmo alternando com o banco de reservas.
São 207,7 milhões de habitantes com papeis distintos, que não estão tentando
conquistar um troféu esportivo, mas, certamente, não conseguiriam. Já que a principal
função coletiva do povo brasileiro, a política, a exemplo do futebol, parece estar distante
de qualquer sentido do trabalho em grupo, quanto mais de trazer uma taça para casa.
No país em que falta o futebol encantador de Pelé, Garrincha, Ronaldinho Gaúcho, Zico, Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, entre outros muitos, também faltam leitos em hospitais, postos de trabalho, salas de aula, cuidado e preservação com uma das faunas e floras mais ricas do mundo. A Chapada do Araripe é parte disso, ou deveríamos dizer: vítima.
Neste mesmo Brasil, sobram hospitais, universidades e escolas públicas sucateadas, sem recursos para se manterem; sobram escândalos de corrupção, envolvendo pessoas que deveriam, por lei, prestar serviços à população, mas só servem, somente, a si mesmas. Sobra a desesperança para o povo, que nem mesmo o futebol foi capaz de recuperar.
Acumulam-se perdas: os direitos trabalhistas, o programa Ciência sem Fronteiras, o controle de agrotóxicos, o pré-sal e os milhões de reais desviados, roubados, de verbas que deveriam concluir as eternas e polêmicas obras da rodovia transamazônica, da ferrovia transnordestina, da transposição do Rio São Francisco. Acumulam-se as expectativas de uma geração brasileira melhor no futebol, melhor na política, melhor em fazer o bem aos seus semelhantes.
Naquele Brasil que um dia foi visto, orgulhosamente, como o país do futebol, paira a vergonha nacional dentro e fora de campo.
Caso alguém se arrisque a comparar a realidade social do Brasil a uma copa do
mundo, certamente concluirá que não passaríamos da fase de grupos, tão pouco das
quartas de finais.
Assim como no evento esportivo, ao fim de cada jogo, resta a esperança de que
da próxima vez podemos fazer melhor e sermos campeões. A única diferença é que a
próxima copa será em 2022, e as próximas eleições este ano. Hora de entrar em campo
com um time, em que o coletivo funcione e saiba fazer gol!