A data de 29 de janeiro foi escolhida para celebrar o Dia da Visibilidade Trans porque, pela primeira vez na história do nosso país, travestis e transexuais estiveram no Congresso Nacional para falar aos parlamentares sobre a realidade dessa comunidade no Brasil. Essa conquista aconteceu no ano de 2004, e desde lá o dia é lembrado.
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Para Cauê Henrique, homem trans caririense, o dia é de comemorar a luta da comunidade trans e travesti, porém com mais luta: “é um dia de concentrar pautas sobre nossas vidas, enquanto agradecemos por ainda tê-las”, diz ele.
Ele conta que a data traz a oportunidade debater demandas que, por vezes, ficam restritas a conversas dentro da própria comunidade, como a relação com o corpo, afetividade e saúde.
Como avanços para a população trans e travesti, Cauê aponta a alteração do nome nos documentos. Desde o ano passado, não é mais exigida cirurgia ou hormonização para realizar a adequação do nome.
Apesar disso, os dados de violência contra pessoas LGBTT no nosso país continuam alarmantes, sendo o Ceará o 5º estado com maior número de mortes violentas dessa população. A expectativa de vida das pessoas trans e travestis no Brasil é de 35 anos, sendo menos da metade da população geral, que é de 75 anos, de acordo com informações divulgadas em dezembro de 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Brasil ainda foi responsável por 40% dos 2.600 assassinatos de pessoas trans em todo o mundo nos últimos dez anos, de acordo com levantamento da associação europeia TransRespect, realizado em 72 países.
No mercado de trabalho, essas pessoas encontram dificuldades para se firmarem formalmente. Em pesquisa realizada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), ficou constatado que cerca de 90% da população transexual trabalha na prostituição; 5% na informalidade, em salões de beleza, como cabeleiras, maquiadoras, ou no comércio ambulante. Apenas 5% da comunidade está no mercado formal.
Programação em Juazeiro
Em Juazeiro do Norte, na Secretaria de Desenvolvimento Social e Trabalho (Sedest), às 19h, ocorre um evento em prol da visibilidade das pessoas trans e travestis, com momento de conversa e integração artística da comunidade. “O evento é para nos organizarmos e também celebrarmos um pouco”, conta Cauê Henrique.
Google homenageia Brenda Lee, mulher trans pernanbucana


Hoje, o site de buscas Google dedicou um doodlo (desenho com o nome do site) à ativista trans pernambucana Brenda Lee, que completaria 71 anos em 10 de janeiro. Ela ficou conhecida por seu trabalho de assistência a portadores do vírus do HIV nos anos 80 em São Paulo.
Nascida em 1948, Brenda, desde de pequena, sofreu com o preconceito da sociedade, por ser considerada “afeminada”. Aos 14 anos ela se mudou para a metrópole paulista.
Em 1984, época na qual a Aids ainda era muito estigmatizada e associada à população LGBTT, Brenda acolheu um portador do vírus HIV rejeitado pela família.
Quatro anos depois, sua casa de acolhimento foi formalizada com o nome de Casa de Apoio Brenda Lee, também conhecida como Palácio das Princesas. O local ainda está em funcionamento, oferecendo assistência médica e social.
Seu trabalho se tornou uma referência e levou à criação do Prêmio Brenda Lee, em 21 de outubro de 2008. A premiação é realizada de cinco em cinco anos, com sete categorias, que fazem parte das comemorações do Dia Mundial de Combate à Aids e aniversário do Programa Estadual DST/Aids do Estado de São Paulo.
História interrompida
Brenda foi assassinada no dia 28 de maio de 1996, aos 48 anos, e seu corpo foi abandonado em um matagal na divisa das cidades de São Paulo e Mairiporã, com um tiro na boca e outro no peito. Na época da sua morte, a Casa de Apoio Brenda Lee contava com 27 pacientes.
Como culpados pelo crime, a polícia prendeu os irmãos Gilmar Dantas Felismino, ex-funcionário de Brenda, e José Rogério Felismino, na época policial militar. A motivação do assassinato teria sido um golpe financeiro que o funcionário tentou dar na ativista, que teria sido descoberto e denunciado por ela na polícia.
Dandara
No Ceará, o caso da travesti Dandara dos Santos marca com sangue a comunidade LGBTTQI no estado. Ela foi brutalmente espancada e em seguida assassinada com tiros. A agressão foi filmada e veiculada na internet. O crime aconteceu há dois anos em Fortaleza. Até 2018, seis homens foram condenados pelo crime.