Atualmente, o mercado de trabalho no mundo passa por uma intensa reconfiguração. Em cenários cada vez mais de crises políticas e econômicas, o desemprego mostra sua real face, abrindo caminhos para a informalidade. O desemprego estrutural no Brasil, hoje, atinge cerca de 12,3% da população, cerca de 13 milhões de pessoas.
Neste momento de crise e alta do desemprego surgem novas possibilidades, novas formas de trabalho. Nesse contexto, as plataformas digitais de serviços de entrega de comida, como o Ifood e de transporte social como o Uber e 99, ganham popularidade como uma alternativa para complementar a renda ou para fugir do desemprego àqueles que encontram dificuldades para se inserir no mercado de trabalho.
A verdade é que esses aplicativos de serviços cada vez mais têm se disseminado nas médias e grandes cidades brasileiras. Basta olhar para nosso Crajubar e perceber que estes serviços como de outro aplicativos de transporte social regional como o Bora Cariri, já fazem parte da nossa rotina, quando queremos chegar rápido a um destino, ou quando queremos pedir alguma comida, mudando nosso estilo de vida e hábitos de consumo.
O uso de aplicativos de celular como forma de trabalhar marcam essa nova forma de organização das relações de trabalho. Essas novas feições que vem acontecendo no capitalismo global é denominada de uberização do trabalho ou economia compartilhada, mas este termo “uberização” não foi criado pela Uber; ela é apenas mais uma empresa que faz parte desse processo de reconfiguração do trabalho, afirma o sociólogo Bruno Durães.
Setores da economia estão sendo afetados por essa nova forma de ofertar e demandar bens e serviços (outros exemplos são o Airbnb e CouchSurfing – são plataformas de compartilhamento de hospedagem). Os negócios que envolvem a economia compartilhada estão cada vez maiores. Há grandes multinacionais que movimentam e lucram bilhões de dólares, gratuitamente, pois elas não constroem prédios, não compram carros, não tem despesa com pessoal, tampouco com impostos, pois a maioria desses serviços são desregulamentados do ponto de vista das leis e do direito.
Fala-se muito das vantagens para o consumidor que adquire um bem/serviço com mais qualidade e preço acessível, por exemplo, mas qual a vantagem para o trabalhador? O discurso propagado por essas empresas é de que você faz parte de uma rede colaborativa, um empreendedor dotado de “liberdade” de trabalhar como quiser e na hora que bem entender e que os colaboradores podem fazer seu salário; se quiser ganhar mais, é simples: trabalhe mais horas.
Como essa uberização influencia nas relações de trabalho? Camufla-se uma relação de trabalho, mas não há relação de emprego e com isso perdem-se os direitos do trabalhador. A uberização permite a contratação de serviços em vez de empregados, aprofundando a terceirização e exploração do trabalho, portanto, a precarização já que a empresa se exime dos encargos trabalhistas previstos pela CLT.
Os colaboradores se sujeitam a jornadas exaustivas de trabalho, pois, a empresa impõe metas cada vez mais altas. O mercado é atrativo para mais pessoas trabalharem gerando uma reação na economia: redução do salário. Por outro lado, acirra a concorrência interna, concorrência que causa riscos a vida e a saúde, pois, na pressão para se cumprir metas e não ser desvinculado do aplicativo gerando um mal-estar laboral causando as vezes, ansiedade e depressão.
Quem assume os riscos? O trabalhador! O resultado de tudo isso é a perda da liberdade do trabalhador e do controle do trabalho, tendo em vista que até mesmo a tarifa a ser paga pelo motorista à empresa, é definida unilateralmente, por um mecanismo de oferta e demanda, atendendo muito mais os interesses econômicos das empresas do que o próprio trabalhador.
Estima-se que, no Brasil, entre cinco e meio a seis milhões de pessoas trabalhem para essas plataformas hoje. E a tendência é que essa válvula de escape do desemprego atraia mais pessoas para este nicho do mercado, pois as pessoas não sabem quando terão um novo emprego formal. Apesar das críticas a esta nova forma de trabalho, minimamente esta é uma fonte de renda para essa população, pois, o discurso das pessoas é de que é melhor ter renda a não ter nenhuma, legitimando ainda mais a informalidade na economia.
Em tempos de flexibilização das normas trabalhistas é imprescindível fazer uma reflexão, pois a uberização é uma tendência mundial que repercute da escala global para o local e denuncia além do desemprego estrutural, problemas como a informalidade, a desburocratização das normas, a mobilidade urbana, ausência de legislação digital que atenda os novos ditames da economia e sobretudo a ausência de discussão da pauta nas agendas do governo, porque a revolução tecnológica democratizou o acesso às massas e cada vez mais as empresas se utilizarão de plataformas digitais pra atender as necessidades atuais de consumo.
Pensar em alternativas que melhorem a qualidade de vida dos trabalhadores devem ser pensadas a partir de hoje para evitar ainda mais a deterioração da dimensão social do mercado de trabalho, pois cada vez mais os setores irão aderir a esta modalidade de trabalho.
Uma saída por exemplo, pode ser uma cooperativa de transportes, pulverizando para outros aplicativos de transporte e/ou entrega que atenda as especificidades de cada região. Uma alternativa que está em voga hoje no Cariri, é o já citado Bora Cariri que, desde 2018 opera na cidade de Juazeiro do Norte como uma alternativa ao Uber que já operava no Crajubar. No sistema de cooperativa, cria-se seu próprio aplicativo, os cooperados se vinculam e dividem os lucros. Isso pode ser feito tanto pra aplicativos de transporte como de entregas de encomendas.
O futuro é o compartilhamento!