segunda-feira, 29 de abril de 2024

Coluna Política: Guerra e Política

Já é bastante conhecida a frase “A guerra é a continuação da política por outros meios”, do estrategista do exército prussiano Carl Von Clausewitz, autor do famoso tratado “Sobre a Guerra”, de 1832.

Para além do debate ético-moral que tal afirmativa possa provocar, se considerarmos como válidas as definições de política como poder e de poder como a força necessária e suficiente para a imposição de uma vontade, a definição de Clausewitz pode ser contextualizada e validada como um conceito de política em estado bruto, sem a lapidação da racionalidade, da democracia, da diplomacia e do Direito. A guerra é, cruamente, a imposição da dominação pela força.

Fazendo uso adaptado das definições trazidas por Clausewitz em sua obra, é possível dizer que os conflitos de interesses, o ódio e as animosidades provocam a violência da guerra como estratégia política de dominação ou extermínio, tal como observado atualmente nos dois grandes conflitos bélicos em andamento, que envolvem disputa de território, animosidade étnica e atores políticos próximos a extremismos ideológicos.

Não é mera coincidência, ademais, que Rússia e Israel estejam no seleto grupo de apenas nove países que possuem armas atômicas, que, aliás, não servem necessariamente para serem usadas no conflito, como de fato não estão sendo, mas, para impor aos demais países o afastamento da guerra, para que o “direito” de dominar seja exercido pela força. As armas nucleares servem para que o mundo saiba que você as tem e que, caso seja atacado, as usará como defesa, causando estragos em proporções inimagináveis.

– E o que isso tem a ver com a nossa política do dia a dia?

– Muita coisa!

A informação, por exemplo, é uma das ogivas nucleares da política corriqueira. Atores munidos de determinadas informações geralmente impõem as suas vontades e protegem os seus territórios de atuação contra ataques dos seus concorrentes, principalmente daqueles que estão mais próximos, no mesmo campo político. Olhe para a história recente do Brasil: por que existem alguns atores políticos, de palanque ou dos bastidores, que são quase intocáveis ou que conseguem sair ilesos quando acusados? Pode ser por vários outros fatores, mas não é prudente desconsiderar que seja em razão, também, do poder “bélico” das informações que possuem.

No campo das ideias, da ética e dos sentimentos, seria bastante desejável que não fosse assim, tal como seria igualmente desejável que não houvesse guerras como as que assistimos atualmente. Contudo, observando a política de maneira histórica, empírica, objetiva e descritivamente, para fazer uma homenagem ao “velho” Maquiavel, é preciso reconhecer que essas coisas existem e produzem efeitos práticos na dinâmica do jogo do poder.

É certo que nas democracias e em tempos de paz, como é o nosso caso no Brasil, a violência ou a chantagem como método político são completamente rechaçadas ética e juridicamente, embora permaneçam no front.

De mais a mais, diante da guerra permanente de (des)informações e de narrativas na política brasileira, caracterizada pela existência de intelectuais de WhatsApp, dancinhas de tic-toc e desprezo pela leitura e pela ciência, é sempre importante lembrar ao mundo da política o alerta do proeminente empirista inglês Francis Bacon: “O conhecimento é em si um poder”.

*Isaac Luna é advogado, cientista político, consultor e professor universitário

 

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