Segundo informações preliminares do Censo Demográfico 2022, a população idosa brasileira teve um crescimento de 10,8%, em 2010, para 16,7% atuais. Acompanhando esse dado positivo, relacionado a longevidade da nossa sociedade, números preocupantes também apresentaram uma alta: o de denúncias de mal-tratos contra pessoas na terceira idade.
Somente em 2021, foram registrados 80 mil episódios de violência contra idosos, sendo que a maioria (55,17%) ocorreu dentro da própria casa das vítimas.
As formas de violência se apresentam como ações (agressões físicas, psicológicas, sexuais, corrupção patrimonial e/ou moral) ou omissões (negligência ou abandono), cometidas uma ou várias vezes, capazes de afetar a saúde e de impedir o convívio social da vítima.
E como identificar os sinais de maus tratos não é uma tarefa simples, a advogada Wilmara Falcão dá algumas dicas. “A principal forma de constatar é observando a rotina dos idosos. Muitas vezes a vítima não fala sobre os abusos sofridos, mas demonstra através de mudanças comportamentais, irritabilidade, tensão constante, além de tantas outras formas que podem sinalizar os maus tratos. O importante é sempre observar o padrão comportamental da pessoa e avaliar se há alterações repentinas sem motivo aparente”, afirma.
LITERATURA COMO CONSCIENTIZAÇÃO
A doutora em saúde pública, especialista em gerontologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), enfermeira e professora universitária Adriana Freitas explica que depois de 27 anos pesquisando sobre o envelhecimento, sentiu a necessidade de trazer esse tema para mais perto da população.
Hoje, além de atuar nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, estende o olhar sobre o envelhecimento humano para a literatura, movida pelo desejo de tornar o conhecimento acadêmico mais acessível em outras linguagens. Na prateleira das obras já lançadas estão Crônicas no Asilo (2016, Editora Albatroz), A menina que queria ser… (2018, Editora Albatroz), As velhices de Berenice (2019, Editora Perfil Editorial) e Sem Retoque (2021, Editora InVerso).
“Eu fui para a literatura porque é um gás de imaginação, de produção, de reflexão, e decidi entrar para a literatura, principalmente infantil, para que a gente possa, junto às crianças, desmistificar o que elas veem e compreendem sobre o envelhecer”, esclarece Adriana, lembrando que seus livros podem e devem ser lidos por pessoas de todas as idades.
COMO DENUNCIAR
O Estatuto do Idoso prevê que os casos suspeitos de violência praticada contra pessoas com mais de 60 anos devem ser objetos de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade sanitária. Se a situação persistir ou for confirmada, a questão deve ser comunicada ao Conselho do Idoso, ao Ministério Público ou à Delegacia de Polícia.
Também é possível fazer uma denúncia anônima por meio do Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos. “Qualquer pessoa pode realizar a denúncia, tendo ou não algum grau de parentesco com a vítima. A própria pessoa vulnerável, inclusive, pode ligar para esclarecer dúvidas e efetuar a denúncia, tendo a identidade resguardada”, finaliza a advogada Wilmara.