Por: Isaac Luna*
Em análise política uma das principais variáveis observada pelos profissionais da chamada “realpolitik” diz respeito a identificação dos “playres”, ou seja: dos jogadores que realmente estão na disputa e importam para a definição de quem ganhará o jogo. O governador Camilo Santana tem em seu time caririense um player com múltiplas possibilidades, pela abrangência que atingiu o seu nome em razão do volume de trabalho apresentado: trata-se do deputado estadual Fernando Santana.
Parlamentar mais votado na Região do Cariri, Fernando vem apresentando desenvoltura política e prestação de serviços que o qualificam como pré-candidato em qualquer cidade da região, inclusive Juazeiro do Norte, onde vem sendo cortejado por várias lideranças e até mesmo convocado pelo PT local para assumir a dianteira do processo. Recentemente trouxe a Assembleia Legislativa para a Cidade dos Romeiros e, dentre muitos outros anúncios de investimento e homenagens, o próprio Camilo, ladeado por Fernando, assinou a ordem de serviço do teleférico do Horto, obra de grande porte com significado simbólico, turístico e econômico. Ainda nesses últimos dias, a reversão da retirada da regulação do SAMU do Cariri (que fica em Juazeiro), notícia que causou abalo nos profissionais de saúde e na população de toda a região, foi fruto de uma grande e rápida articulação que envolveu a bancada sul-cearense, mas que teve no vice-presidente da Assembleia Legislativa o carro-chefe das tratativas.
De outra banda, a terra do governador Camilo Santana e do próprio Fernando, Barbalha, canta aos quatro ventos a sua candidatura para o executivo municipal. O jovem Santana é a principal liderança da cidade, onde já foi secretário, candidato a prefeito e deputado mais votado do município no último pleito. Além do recall, Fernando tem muitos serviços prestados à municipalidade já nesse início de mandato, destacando-se o teleférico do Caldas, as areninhas e o início das obras para a construção da estátua de Santo Antônio. Em Barbalha ouve-se constantemente pelas esquinas que Fernando é a chance que a cidade tem de aproveitar ao máximo os dois últimos anos do governo Camilo Santana com um volume maior de projetos, obras e investimentos para o município.
Nos dois casos, ou seja, nas terras de Padre Cícero e Santo Antônio, respectivamente, o deputado figura como nome central na sucessão, favorito à vitória.
Além disso, Fernando também é jogador apto a atuar no jogo da sucessão estadual, já que a sua atuação na vice-presidência da Assembleia Legislativa tem chamado a atenção, principalmente pela sua capacidade de articulação da base e pelo respeito e bom trânsito que tem com os parlamentares da oposição. Somado a tudo isso, sobressai ainda o fato de ser homem da mais estreita confiança do governador, o que o credencia para, mesmo em primeiro mandato, ter o seu nome na mesa para a composição da chapa que será apresentada por Camilo: a vice-governadoria tem sido alvo de especulação nas apostas que envolvem o futuro político do jovem deputado.
Como player diferenciado, Fernando pode jogar várias partidas e em várias posições e, diante das circunstâncias, em jogos e posições igualmente importantes para o projeto político do grupo do governador:
a) Camilo não pode perder em casa novamente, de modo que vencer em Barbalha é estratégico, simbólico e necessário;
b) A sedimentação da liderança política no Estado do Ceará passa pela hegemonia na capital do interior, Juazeiro do Norte, sendo imprescindível ganhar – e ganhar bem – as eleições por lá, sob as bençãos do Cearense do Século;
c) Garantir espaço político no próximo governo, com interlocutores de extrema lealdade ocupando espaços de poder estratégicos, é premissa da qual não pode descuidar o governador, motivo pelo qual a definição da chapa da sucessão é fator determinante para a sucesso do projeto do seu grupo.
Camilo sabe que precisar ter êxito nesses três casos se quiser consolidar a sua liderança política com luz própria e, em todas essas batalhas, Fernando Santana aparece como possibilidade.
O que acontecerá? Pode acontecer qualquer uma dessas hipóteses, inclusive a de Fernando ficar onde está e consolidar sua liderança parlamentar, de modo que apenas o desenrolar das articulações e acontecimentos dos próximos meses poderá lançar luz sobre em que posição e que jogo jogará o dinâmico parlamentar, “big player” do grupo do governador no desenho da configuração política do Cariri e do Ceará na era Pós-Camilo.
*Isaac Luna é advogado, cientista político, escritor e professor universitário.
