Até onde é possível mensurar a paixão de um torcedor? É justo dar razão a todas as manifestações, por mais que sejam pacíficas? É justo compreender uma ação, apenas pelo fato de ter sido realizada por um torcedor?
No último domingo, após a vitória do Floresta sobre o Ferroviário, ocorreram muitos protestos. Nem o bom momento vivido na Copa do Brasil, com as classificações contra o Sport Recife e o Vila Nova de Goiás, foi suficiente para manter o clima de harmonia entre o clube e o torcedor. Ao som do apito do árbitro, com o fim do jogo, parte da torcida segurava cédulas de dinheiro e gritava, chamando o time de mercenário. Atitude normal, se for considerada um simples ato de revolta. Principalmente, aqueles que acompanham de longe o time de coração.
Em entrevista a repórter Denise Santiago, da TV Diário, o jogador Valdeci do Ferroviário, fez um grande desabafo. O atleta lamentou os protestos da torcida e relatou que passou anos sem receber salário. “Cheguei no Ferroviário em 2011 e até 2014 não recebi 1 real. Minha esposa que me ajudou a chegar até aqui, minha família, meus amigos e as pessoas que acreditam.” Em outro trecho Valdeci disse: “Se fosse por dinheiro, eu não teria chegado aqui, pois assinei meu primeiro contrato profissional sem receber 1 real, para chegar aqui e ser chamado de mercenário por causa de uma partida, de uma competição que a gente não está conseguindo se encaixar, sendo que em outra a gente está tirando o time do vermelho e colocando no verde. Acho que é uma coisa de se pensar”, destacou.
É importante lembrar que o Ferroviário conseguiu mais de três milhões de reais na classificação de fases da Copa do Brasil, contra o Sport e o Vila Nova. O time irá enfrentar agora o Atlético Mineiro. Já no campeonato cearense, o Tubarão da Barra terá que vencer o Fortaleza, na última rodada, e torcer por um empate entre Iguatu e Uniclinic, para se classificar à semifinal da competição.
Diante de tudo isso surgem inúmeras reflexões. É injusto o ato do torcedor em protestos em casos como o do Ferroviário, que vai bem em um campeonato e irregular em outro? Ou isso é coisa do futebol? As dificuldades enfrentadas por profissionais, como o Valdeci, devem ser levadas em consideração? É importante para o torcedor saber, com intimidade, o que se passa no clube? Com certeza, esses são questionamentos que podem gerar boas discussões. Contudo, uma coisa é certa; a torcida está longe de saber a realidade vivida, internamente, pelo time do coração. E mais longe ainda, é a distância entre a paixão e o equilíbrio razoável do torcedor.