Maior reserva de urânio do Brasil, a mina de Itataia, em Santa Quitéria, entra no centro de um projeto que pode levar a economia local ao ápice do desenvolvimento ou à decadência total em alguns anos. Os extremos ressurgem com a retomada do programa nuclear brasileiro pelo Ministério de Minas e Energia, que deve resultar em US$ 350 milhões de investimento privado na região. Mas os riscos de má operação podem acabar até com o pouco que o município tem hoje.
A consideração não é pessimismo. Afinal, impossível não alertar para esta possibilidade após os crimes ambientais que devastaram Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, e contaminaram o Rio Poti, em Quiterianópolis, aqui mesmo no Ceará. Uma das possibilidades para assegurar uma condução adequada da exploração seria a aproximação com a academia, pois professores da Universidade Federal acompanham o tema com bastante atenção. Pelo dito por professores até agora, isso ainda não aconteceu.
Porém, a chancela para a exploração local dada pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que promete associar-se ao grupo Galvani na exploração, expressa segurança inicialmente. O interesse privado surge do fosfato que é 90% da mina – o urânio tem participação de apenas 10% da reserva, mas de valor agregado bem maior, além de ser monopólio do governo brasileiro. O início da operação é esperado para 2024, segundo nova estimativa do Ministério, mas já é falado há pelo menos uns dez anos.
Na prática, sairão do Ceará matérias-primas para geração de energia nuclear e fabricação de fertilizantes e ração animal em um modelo de associação público-privado ainda inédito para o setor no País. Por isso o voluptuoso montante que, como bem comparou o novo presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante, pode resultar em um impacto tão relevante como foi a instalação da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) para a economia cearense.
Espera-se, nesta comparação, que a associação INB/Galvani seja para Santa Quitéria o que a siderúrgica foi para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), servindo de âncora para toda uma cadeia produtiva da energia nuclear e da indústria de fertilizantes e rações. O modelo de desenvolvimento não foge da regra: é mais investimento, melhor infraestrutura e geração de empregos qualificados, impulsionando o município cujo PIB é o 43º do Estado, hoje.
No entanto – e o alerta precisa ser feito a cada destaque positivo –, a necessidade de fortalecer órgãos de proteção ambiental e humana é essencial para o desenvolvimento sustentável deste projeto, principalmente por lidar com rejeitos radioativo. Equipamentos de monitoramento modernos, pessoal qualificado e fiscalizações constantes devem existir para que um desastre não destrua toda a expectativa de progresso.