A carne, seja ela vermelha ou branca, é comum e muitas vezes essencial para alguns brasileiros. Desde pequenos somos acostumados com a carne na alimentação diária, não só no almoço mas nos lanches da tarde ou nos embutidos como em presuntos e salsichas. Mas se seu filho dissesse que não quer mais comer carne, como você reagiria?
No início deste ano, o pequeno Bento, de apenas sete anos de idade, chegou à conclusão de que não ia mais comer carne. Sua mãe, a professora Juliana Lotif, acatou a decisão e buscou logo ajuda profissional para evitar qualquer déficit na alimentação do filho. “Até achar uma nutricionista que apoiava ele não comer carne passamos por alguns outros, todos eles diziam para esconder a carne na comida”, conta Juliana.
“O Bento tem um paladar muito apurado, ele percebe quando tem carne na comida”, conclui, afirmando que para além do paladar, ela respeita a decisão do filho. “Eu uso isso como argumento quando ele diz que não quer comer lentilha, por exemplo”, diz ela, afirmando que explica ao filho que se ele escolheu não comer carne tem que comer outros derivados vegetais com proteína, como a lentilha.


Outros alimentos que Juliana usa para substituir a carne são a chia, o amendoim, a ervilha (preferida de Bento), o grão de bico e o feijão. “Faço hambúrguer e sopa de grão de bico e coloco ervilha na salada. Uso grãos em tudo que eu posso”, diz Juliana, mostrando uma massa de pizza caseira com chia.
“Nunca fui de bater ou colocar de castigo. Sempre fui contra ameaça. Aqui em casa tudo é consultado e dialogado. Mostro provas, dados, causa e consequência”, afirma Juliana.


A professora dá dicas às mães que querem não apenas diminuir o consumo de carne para os filhos, mas também introduzir uma alimentação saudável. “Não é ‘come para a mamãe ficar contente’, é ‘come para ficar forte, come para crescer’, tem os grupos alimentares, não pode comer só arroz, também não pode comer só feijão”, explica Juliana como fala com os filhos.
Apesar de fazer um prato sempre colorido, a professora afirma que no fim de semana os doces e guloseimas são liberados. “Também não precisa comer saudável todo dia da semana, pode comer batata frita e bombom no fim de semana”, e conclui, “se eu não quero que eles comam eu não tenho em casa”.


Quando perguntado se prefere pirulito ou ervilha, Bento responde sem titubear: “ervilha”. Já na disputa contra os bombons, a ervilha acaba ficando empatada. Entre batata frita e cozida, o garoto gosta das duas por igual, assim como as pizzas da mãe e as pizzas de restaurante. “Sexta-feira a gente come pizza caseira, gosto das duas pizzas, da pizzaria e da mamãe”, diz o pequeno Bento.
Cecília, de seis anos, irmã de Bento, diz que o irmão concluiu que não queria mais comer carne depois que “descobriu que o pai dele era vegetariano”. A mãe afirma que o menino nunca aceitou bem o gosto da carne, e que além disso, alega a proteção animal. “Eu não gosto de comer carne porque as pessoas matam os animais”, afirma Bento.


Apesar do exemplo de Bento, nem a mãe nem a filha pararam o consumo de carne, mas reduziram a duas vezes na semana, no máximo.
O nutricionista Álisson Nelo explica que uma criança que retirou somente a carne de sua alimentação consegue, através dos outros inúmeros alimentos, obter todos os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento. “A atenção maior é saber como anda o consumo de frutas, verduras, grãos e leguminosas dessa criança”, afirma.
Ele aponta somente que, no caso de a criança querer restringir também o consumo ovos, leite e seus derivados (ovolactovegetariana) tem de ter uma atenção especial para a suplementação de vitamina B12.
“O cuidado que as mães devem tomar é de aceitar a decisão, mas não esquecendo de sempre procurar um nutricionista para ajudar nesse momento de mudança na alimentação, solicitar exames de rotina e repassar as devidas orientações nutricionais à mãe e filho”, conclui Álisson.
Álisson Nelo – Nutricionista
CRN: 25386/P