Uma estudante brasileira foi assassinada na noite de segunda-feira (23) na Nicarágua, vítima de tiros de “um grupo de paramilitares” no sul da capital Manágua, segundo informou nesta terça-feira o reitor da Universidade Americana (UAM), Ernesto Medina.
Raynéia Gabrielle Lima, estudante do sexto ano de Medicina, morreu com “um tiro no peito que afetou o coração, o diafragma e parte do fígado”, disse o reitor ao canal 12 da televisão local.
Mãe de Raynéia, a aposentada Maria Costa afirma ter falado pela última vez com a filha na manhã da segunda (23). “Ela me disse que estava indo para o plantão e me dizia sempre que lá estava muito perigoso, que ninguém estava saindo na rua. Hoje de manhã, o ex-sogro me ligou dizendo o que tinha acontecido”, contou.
O assassinato ocorre em meio a uma crise sociopolítica com manifestações contra o presidente Daniel Ortega. A repressão governamental aos protestos já deixou entre 277 e 351 mortos, de acordo com organizações humanitárias locais e internacionais.
“É preciso dizer isso, paramilitares que estavam na casa de Chico (Francisco) López foram os que dispararam”, disse o presidente.
López, tesoureiro do partido governante, Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), e até pouco tempo atrás gerente de duas grandes empresas estatais relacionadas com o petróleo e o setor de construção, foi afetado pelo Global Magnitsky Act, dos Estados Unidos, que o acusou de graves violações aos direitos humanos. A brasileira morava na mesma área que López, uma região ao sul da capital nicaraguense.
“As forças paramilitares sentem que têm carta branca, ninguém vai dizer nada a eles, ninguém vai fazer nada, eles andam sequestrando e fazendo batidas”, denunciou o reitor.
O assassinato da estudante brasileira ocorreu horas depois de Medina participar de um fórum no qual disse que o crescimento econômico e a segurança na Nicarágua antes da explosão dos protestos contra Ortega em abril “era parte de uma farsa” porque “nunca houve um plano que acabasse com a pobreza e a injustiça”.
“A morte desta moça é um sinal do que está acontecendo na Nicarágua, contradiz o que Ortega disse (em entrevista à Fox News), que tudo está normal, mas é uma paz de mentira, há paramilitares por todos lados”, argumentou o reitor.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) responsabilizaram o governo da Nicarágua por “assassinatos, execuções extrajudiciais, maus tratos, possíveis atos de tortura e prisões arbitrárias”.
A Nicarágua está imersa na crise mais sangrenta da história do país em tempos de paz e a mais forte desde a década de 80, quando Ortega também foi presidente (1985-1990).
Os protestos contra Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, começaram no dia 18 de abril devido a fracassadas reformas na Previdência Social e se transformaram em um grande pedido de renúncia ao presidente, que acumula 11 anos no poder em meio a acusações de abuso e corrupção.
Universidade se pronuncia
Em nota, a Universidade Americana (UAM) disse que a morte de Raynéia “deixa [a instituição] cheia de dor porque é consequência das difíceis circunstâncias vividas pela Nicarágua”. As bandeiras da UAM foram hasteadas a meio mastro como sinal “de luto e de dor”, afirma o texto.
“A UAM condena esses atos de violência que hoje enlutam uma família e toda nossa comunidade, e pedimos às instâncias responsáveis que esse fato seja esclarecido e que não fique impune.”
A instituição disse, ainda, que foi uma “honra” ter Raynéia como aluna, e que “nunca a esquecerão”. “Por meio de sua profissão médica, ela sempre demonstrou entrega a seus semelhantes e um alto compromisso humanitário.”